16/11/09

E não adianta fazer manha por que não terei os seus carinhos

A veces, mientras paseas la mirada, te encuentras con la belleza, en palabras que dicen, y dicen tanto.

Cuando la poesía suena como el murmullo del agua, como el suave aleteo de una mariposa, como el canto de los pájaros cuando estás, recostado, a la sombra, como una soleá, sólo queda embriagarse con ella y dejar, casi, de respirar. Más si lo hace en ese suave respirar de esa lengua tan prodigiosa, tan dulce, tan sensual, de Pessoa, de tantos, de Tania, tan especial.

Gracias, Tânia, por permitirme traer aquí tus palabras.

Tânia Souza

E nem dói tanto quanto acordar e não ter você aqui.
E as paredes desse quarto são tão pálidas
E esses travesseiros ainda têm o cheiro seu
E nada dói tanto quanto acordar e não ter você aqui
Essa noite foi tão bom eu te sonhei

E a dor se espalha conforme o sol inunda a janela
E eu lembro foi você que a quis assim, acordando a casa em luz
Sozinha, sem seus passos na cozinha
E um anjo entristecido me olha da parede
E o café amargo, não tem na geladeira nada
E é bom pois o nada é o que eu sou
E os minutos do relógio enlouquecido nem sei como vão
E não tem sentido esse pão macio no forno
Sozinha, a mesa não me despertará
E sei que a fome de mais um dia já não vem
E em seu quarto o vazio das coisas
E o vazio do que não se via por ali estarem
E agora faz tanta falta você ocupando o guarda-roupa
E despedindo-se numa noite iluminada
E assim se foi e não prometeu que voltaria,
Sozinha com o escuro da ausência fiquei
E um anjo entristecido me olha da parede
E eu esperei ... te esperei, eu sempre esperei
E assim sozinha a noite eu acordei e não mais adormeci
E sei que não voltarei a ouvir os seus passos na cozinha
E não adianta o telefone ser tão colorido e vivo
E me lembrar o seu silêncio ele é o símbolo do não
E as vozes dos amigas me ferem, pois não são você
Sozinha, estou tão sozinha
E sem teus passos no corredor eu passo
E frente ao espelho olhos sombrios
E é fevereiro, quase onze da manhã
Meus cabelos estão tão tristes
E não adianta fazer manha por que não terei os seus carinhos
E o mar é sempre cinza sem o azul dos seus olhos
Eu fico a cada dia mais sem cores só em sombras
Não tem creme de barbear nem sua face em minhas mãos
Não, não tem,
Mas tem a navalha...
E eu fiz a sua barba doce-áspera foi tão bom
E ela já não tinha tanto corte e está no armário lá do fundo
Eu vi quando procurei os postais de Buenos Aires
E sem ar eu ando e meus passos juntos com os seus
E nós dois riamos até do vento
E naquele vestido vermelho eu fiquei tão menina
E não tenho mais o som das suas passadas largas
Ainda pareço uma gueixa, mas você se foi
A lamina ainda corta
A minha pele é tão pálida
Ah, não sabia, mas vermelho junto ao bege fica tão bonito
E nem dói tanto como acordar sem você...
E se não manchar o piso rubro esse antigo lar vai renascer um dia
E se você vender alguém ainda poderá ser feliz
E agora sei por que você partiu todo esse sangue me dizendo
E só por que eu amei você muito mais que a mim
E amei a mulher que era quando tive seus olhos fixos em mim
E nem dói tanto quanto acordar e não ter você aqui.
E finalmente vou dormir num mar vermelho como o vestido que você me deu...


Tania Souza. http://descaminhossombrios.blogspot.com/

4 comentarios:

Tânia Souza dijo...

Tais palavras, vindas de alguem que escreve com sua sensibilidade e talento, simplesmente entram de mansinho no coração e lá permanecem. Eu que tenho que agradecer por ler meus escritos, muito obrigada.

Anónimo dijo...

Realmente delicado y bello este poema otoñal. Me ha encantado, como tus palabras, como siempre, como todo lo tuyo, tan suave, tan de dentro y tan cierto.
Un beso

Anónimo dijo...

No hay nada que agradecer, Tania, es un placer. Las tuyas si que son un regalo. No hay talento, tal vez sensibilidad; sólo junto palabras para escribir de lo que veo, de lo que siento.
Muito obrigado.
Um beijo.
Diego

Anónimo dijo...

Gracias. Un placer. Y un beso.
Diego